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DOI: https://doi.org/10.5281/zenodo.4676182
DIALETICS OF AUTHORS: METHODOLOGICAL PROPOSAL FOR RESCUE OF INITIAL AND CONTINUING QUALITY TRAINING OF BASIC EDUCATION TEACHERS, MODERN CHALLENGES OF HUMAN RIGHTS
Dirceu Manoel de Almeida Júnior
Possui graduação em pedagogia e História pelo instituto de educação e
ensino superior de samambaia (2012). Professor de educação Básica da Secretaria
de Educação do Distrito Federal. Mestre em Direitos Humanos
Tatiany Michelle Silva e Almeida
Possui graduação em Biologia pela Universidade Estadual de Goiás
(2013) e licenciatura em Pedagogia pela Universidade do Tocantins (2008).
Especializada em Psicopedagogia institucional , Orientação Educacional e
Infância e Direitos Humanos, Educação Básica com Ênfase na Educação Inclusiva e
mestranda em Ensino de Ciências Ambientais pela Universidade Nacional de
Brasília. Atua como docente na SEDF e tem experiência na área de Coordenação de
projetos Pedagógicos e interventivos. E professora e pesquisadora nas áreas de
Educação Ambiental e de Educação Inclusiva.
Resumo: O texto surge da provocação e constatação da UNESCO e do Banco
Interamericano de Desenvolvimento – BID, de que a profissão Docente perdeu
prestigio a partir da metade do século XX, gerando não um tema sociológico a
ser estudado, e sim um problema social muito caro aos Direitos Humanos, pois
educação é pontapé inicial para usufruir todos os outros Direitos, por isso se
justifica a pesquisa sobre formação inicial de docentes, pois manipula bem
social inestimado, Educação. Então o trabalho tem por objetivo teorizar sobre
formação inicial docente, percorrendo o caminho histórico da falta de formação
adequada inicial de docentes da Educação Básica Sugerida pelo BID e UNESCO.
Pretendemos sinalizar uma metodologia que busque caminhos de revitalização da
qualidade política docente, em propor aprendizagem autoral, que é o que leva a
cidadania participativa (Demo, 2015), prática pouco utilizada na educação
básica mantendo o estudante como objeto da educação, não como protagonista de
sua emancipação. Não por culpa do professor e sim por culpa de políticas
públicas que mantem a educação baseada em aula instrucionista que é copia da
copia. Propomos um caminho metodológico
que leve a autonomia e a emancipação do estudante, nesse sentido percorremos
uma dialética da autoria onde o estudante é protagonista de sua cidadania
participativa com qualidade política autoral.
Palavra
chave: Formação Docente; Emancipação; Aprendizagem
autoral; Dialética da autoria; autoria.
Abstract: The text comes from the provocation and observation of UNESCO and the
Inter-American Development Bank - IDB, that the teaching profession lost
prestige from the middle of the twentieth century, generating not a
sociological theme to be studied, but a very social problem. expensive to human
rights, because education is a kick-off to enjoy all other rights, so research
on initial teacher training is justified, as it manipulates priceless social
good, education. So, the paper aims to theorize about initial teacher
education, following the historical path of the lack of adequate initial
teacher education in Basic Education suggested by the IDB and UNESCO. We intend
to signal a methodology that seeks ways of revitalizing the quality of
political teaching, proposing authorial learning, which is what leads to
participatory citizenship (Demo, 2015), a practice little used in basic
education keeping the student as an object of education, not as a protagonist.
of his emancipation. It is not the fault of the teacher but the fault of public
policies that maintain instructional class-based education that is copy of
copy. We propose a methodological path that leads to the autonomy and
emancipation of the student, in this sense we go through a dialectic of
authorship where the student is protagonist of his participatory citizenship
with authorial political quality.
Keyword: Teacher Training; Emancipation; Author learning; Dialectics of authorship;
authorship.
Introdução
Busco nesta introdução iluminar três pontos fundamentais para este
texto, o primeiro é o objeto de pesquisa. Educação, seja ela formal ou
informal, é direito fundamental da pessoa humana. Precisa ser ofertada com
qualidade formal e política, entre os dois lados da face da qualidade será
importante o estudo mais aprofundado da face política, que neste trabalho se
apresenta como participação autoral dos discentes. Sabemos que autoria não
acontece da noite para o dia, é processo em que figura decisiva é o
professor/orientador onde há uma desconstrução cultural e histórica do processo
de ensino e da aula, para se iniciar um processo de aprendizagem autoral, que é
requisito fundamental para exercício da cidadania plena. Existem alguns
caminhos para se chegar
à autoria, propomos o ensaio de um destes caminhos.
O terceiro ponto é a definição conceitual da vértebra da autoria, que propomos
como princípio básico para se chegar à produção autoral (Metodologia). São
eles: – Ensino. Qualidade política. Autonomia. Aprender a Aprender. Emancipação
e Autoria.
Discente adquire qualidade formal e
política na pesquisa e na autoria, aprendendo a aprender tendo como insumo o
ensino, a aprendizagem e a aula que não pode ser regra e sim exceção. Construir
caminho autoral é mudança de paradigma onde se passa pelo que está posto pela
cultura e a história, avanço de mero reprodutor, copiar e colar, para produção
autoral, então é preciso ter compreensão clara do caminho a ser transformado.
Formação stricto sensu se faz a partir da pesquisa e da formação autoral
e seu resultado é produção de conhecimento constante, que é posto a prova em
publicações de artigos e livros científicos que contribuem para diagnosticar e
intervir na sociedade, principalmente em educação, pois nas escolas e
universidades estão aqueles que fazem da pesquisa como “principio cientifico e
educativo”
Caminho
metodológico possível para a dialética da autoria.
Ensino – se em educação, e majoritariamente,
a universidade e na escola básica pública, temos um sistema de aulas, o ensino
é o que se consegue com ela. Ensino é transmissão, é reprodução, é copiar. Na
educação básica, salvo algumas exceções, o professor se preocupa em ensinar, ou
seja, transmitir o que a secretaria de educação propõe, transmitir o currículo,
copiar livro no quadro negro para que os educandos façam copia de copia,
instrucionismo descarado, memorização. Todos os anos milhões de estudantes se
(de)formam no ensino médio, através do sistema de ensino, e acabam não
aprendendo nada, é só olharmos os resultados do exame nacional do ENSINO médio
– ENEM, dos últimos anos. Interessante é que, o próprio nome já indica o que é:
Ensino, cópia, reprodução. Como fica o professor e o ensino, porque não se
liberta? A educação e principalmente a educação superior perpetua a cultura da
aula para o ensino instrucionista, professor se formou tendo aula de ensino e a
única coisa que sabe é ensinar através de aula, atualmente nas licenciaturas,
que formam professores, são quatro anos de ensino, aulas e de lá se sai sabendo
ensinar e dar aulas. “todas as aulas foram dadas, todas as provas aplicadas,
todos os conteúdos transmitidos, essas atividades de ensino soam sugestivamente
inúteis” (DEMO, 2018, p.10) Podemos pegar qualquer licenciatura e analisar o
plano de ensino ou o plano de aula, vamos perceber que eles propõem aulas
copiadas, reprodução arcaica, não inova e nem se renova (GATTI e NUNES, 2009).
O ensino é contraproducente, é antinatural apesar de ser cultural, é pobre não
tem efeito formal ou político deixa sua clientela cada vez mais miserável,
ensino é sistema de dominação e manutenção do status quo, é imoral apesar de
seguir a moral, é a prisão sem grades, mas tem grade curricular, é pura ignorância
e torna o aluno “vítima de aula” (DEMO, 2017).
Qualidade política – sabemos que no processo de fazer ciências são
considerados abordagens quantitativas e qualitativas, e aquela trata de
quantidades, de medir o concreto, a forma, o tamanho, a extensão, é o
perceptível, o quantificável, não que seja mais fácil, e só diferente; esta é
de difícil percepção pois parece que se esconde, precisa ser escavada com
vivencia, convivência e afinidade ideológica, é preciso participar do fenômeno
para percebe-la (DEMO, 1991; FREIRE,
2016). Historicamente o povo, a grande massa, esteve afastada da qualidade
política, lhes foi tirado a possibilidade de conhecê-la, e uma pequena elite
decidiu o destino de todos por muito tempo “parece claro que o homem é pintado
mais como conduzido do que como condutor de sua história” (DEMO, 1988, p.14),
temos então que o homem ficou afastado das decisões de seu destino, ficando nas
mãos de poucos. Na dimensão humana político é quem possui conhecimento e
reflexão histórica, conhece os problemas sociais e pesquisa para resolvê-los. É
participativo, atuante, ativo. Tem os caminhos de sua vida nas próprias mãos.
Busca e cria direitos contra a opressão e a subserviência. Tem ações próprias e
se articula em grupo para preservação e conquista de seus interesses.
Participação é categoria básica para exercício da cidadania. Não seria
exagerado evidenciar que a marca mais forte da qualidade política do povo
esteja em sua articulação como sociedade civil, contra o Estado e a elite econômica,
principalmente contra a pobreza material e política imposta, e esta só pode ser
resolvida com educação de qualidade, que é negada com o sistema de aulas que
não politiza ninguém, é a reprodução de um sistema de exclusão onde não se
aprende, apesar de ter aulas, muitas aulas. Aponta-nos (FREIRE, 2016, P. 108)
que “A educação não vira política por causa da decisão deste ou daquele
educador. Ela é política”. A possibilidade da educação, da mudança de
pensamento, da construção própria, da autonomia, do reconhecimento da opressão
e a possibilidade de luta, define o quanto a educação é política. Libertadora.
Cidadã. Podemos ter também a política da aula, do ensino, da instrução que é
política perversa e atuante na universidade e na escola. Política da elite reservada
às massas. Cidadania organizada, em uma sociedade, é o eixo central da
qualidade política, pois as associações que lutam e buscam direitos individuais
e coletivos podem alcançar qualidade de vida para muitos que precisam de
trabalho, educação e saúde. Qualidade política está na ordem da conquista
humana, pois só o homem pode ser sujeito, ator da participação, da articulação,
da emancipação, do entendimento do que é melhor para si e para o grupo.
Educação é ferramenta decisiva para qualidade política.
Autonomia – para sublinhar a autonomia, pelo menos em educação, é
preciso ter em mente que ela é orientada eticamente. Temos dois polos éticos em
educação, o primeiro se refere ao ensino, à aula que é formal e deixa da mesma
forma, pequena ética que é a do Estado ao oferecer à grande massa “uma escola
pobre para o pobre”(DEMO, 2018, p.139). O segundo se refere à
orientação/mediação para a autonomia, autoria e pesquisa, e essa necessita do
grande compromisso ético do professor para que aconteçam (FREIRE, 2016), dada
as devidas proporções, em educação a autonomia está correlacionada ao
professor. Professor que aprende bem, pesquisa, autoria e autonomia,
proporciona aprendizado adequado quando tem compromisso ético,
Aprender a aprender – Interessante que no métier da educação superior e
da educação básica ouvimos, na escola, nas reuniões pedagógicas e nos cursos de
formações continuadas, o termo aprender a aprender ser usado como se fosse
praticado religiosamente dentro das IES e escolas, o que se percebe é que se
fala da boca pra fora, jogo de representação e poder furado de vivaldinos
(DEMO, 1982) que se dizem, e se acham professores de primeira linha, enchem a
boca para dizer: - Eu tenho 20 (vinte) anos de sala de aula! Quer saber mais do
que eu? O silencio em seguida é vergonhoso. O certo é que se usa do argumento
de autoridade (tempo de serviço) não da autoridade do argumento (Produção
autoral) (DEMO, 2008), pois não se ver nem na teoria e nem na prática
atividades do aprender a aprender em cela/sala de aula, tá aí o índice da
educação básica para corroborar conosco. O que é o aprender a aprender? Não
temos resposta pronta, fechada, pois em ciências nada está fechado, resolvido,
acabado, mas podemos trilhar um caminho possível, bem interessante, e
qualitativo para o aprender a aprender. Sua dimensão está no saber pensar,
reformular conhecimento disponível para intervir de formar eficiente na
realidade, é processo de inovação questionadora e como tal, está na ordem da
(re)construção de conhecimentos através da pesquisa e da autoria crítica e
autocrítica, “educação encontra no ensinar e no aprender apenas apoios
instrumentais, pois realiza-se de direito e de fato no aprender a
aprender”(DEMO, 2014, p.134). Se em nosso sistema de aulas se ensina através da
cópia, o aprender a aprender dá um salto qualitativo ao reformular,
reconstruir, criar proposta nova a partir da cópia e da aula, insumo. O
problema da cópia é que ela não se reconstrói, não se reinventa. Um texto que
foi produzido em um determinado tempo, para uma determinada sociedade em uma
determinada cultura é apresentado em sala de aula nos dias de hoje, para ser
copiado, decorado e avaliado através de prova. Não existe aprendizagem! Ler os
clássicos não é problema, o ruim é ficar com a cópia nua e crua, ou seja, não
inovar a leitura, não construir ideia nova através do clássico. Aprender a
aprender requer habilidade de reformular o clássico, pegar a cópia e dar uma
nova dimensão, uma nova interpretação, uma nova qualidade ao texto,
reconstruir, reescrever e contextualizar com o momento histórico e cultural do
sujeito. Através da leitura de autores é que aprendemos e nos tornamos autores
(DEMO, 2005). Tornamo-nos autores pela competência reconstrutiva, e os
conhecimentos disponíveis não são para serem copiados, são a base, o insumo
para a releitura, a reformulação, a reconstrução, para a pesquisa e para a
autoria! É processo doloroso, pois pensar doí. É preciso vencer alguns
desafios: 1°- abandonar a cultura da aula e aprender a pesquisar, tarefa nada
fácil, mas com calma e muita leitura se chega lá; 2° - saber o que ler. Não
adianta ler qualquer coisa é preciso se abster das leituras instrucionistas,
das leituras que não provocam o pensar próprio, receitas prontas, soluções para
tudo, e preciso ler a teoria crítica, pelo menos em parte, e mesmo assim ler
desconfiando. 3º - escrever, reescrever, reformular o conhecimento disponível,
para se chegar à produção própria. Aprender a aprender é nutrido pela
construção própria dos educando, claro que inicialmente mediada,
supervisionada, acompanhada pelo professor mediador, é participação ativa em
debates, dúvidas e soluções das questões educacionais, é a virada da quantidade
de cópias, passividade, inercia, letargia, do instrucionismo para a qualidade
de construção e da participação autoral. Aponta-nos (DEMO, 2015a, p.32) que
“aprender a aprender é uma das habilidades humanas mais finas e decisivas,
desde que crítica autocrítica.
Emancipação – para desenhar o conceito de emancipação partimos do que é
essencial na vida! Alimento! Ao nascermos começamos aprender, mas o que impera
é o instinto de sobrevivência, somos programados sensorialmente para buscarmos
o alimento no seio materno, estamos de algum modo, dependentes da progenitora
para garantirmos os nossos primeiros anos de vida.
Disto decorre que todo ser vivo é chamado à autonomia por conta de sua
própria dinâmica vital interna. Todo animal, como regra, nasce pequeno e
geralmente precisa de cuidados maternos, por vezes de maneira fatal, como é o
caso do ser humano. Mas, com o tempo, ao desenvolver-se de maneira
autopoiética, vai tornando-se autônomo naturalmente, ou morre” (DEMO, 2004, pp.
12-13).
Com o avançar da aprendizagem iniciamos
processo autoral e começamos a nos alimentar sozinho, a autonomia começa a
aparecer na vida. Em certo sentido autonomia é se livrar que outras pessoas
façam por você o pode ser aprendido e feito de modo autoral, qualidade
política, participação. A vida é repleta
de ritos emancipatórios, do engatinhar ao andar, do balbuciar ao falar, do jardim
de infância à formatura na faculdade, do desemprego ao emprego. Na verdade
viver é um ciclo emancipatório, só que podemos dividir emancipação em duas
categorias, a comum e a cidadã. Emancipação comum é aquela que passamos por
força de pressão biológica, social ou familiar e que atinge a grande maioria
dos seres humanos – comer, falar, trabalhar, casar, ler, escrever, é a
emancipação do povo, não por escolha própria, e sim por força cultural e
histórica. Emancipação cidadã é composta da comum e dá um passo a frente, pois
incorpora qualidade formal e política adquirida através de educação autoral que
forma sujeito protagonista da cidadania, capaz de ler a vida e intervir de
forma crítica e autocritica. É preciso entender que emancipação não é ser um
idiota com atitude e sair fazendo tudo que der na telha. É preciso emancipação
social para está no centro da sociedade, ou seja, é preciso está pronto para
competir ao pé de igualdade com a elite, estamos no campo da emancipação da
pobreza do pobre, seja ela formal ou política. O rico não precisa se emancipa,
já nasce nesta condição através do dinheiro. Emancipação tratada aqui é a do
miserável que pode mudar sua história através da educação. DEMO, 2005 sugere
que:
Para contribuir na libertação do marginalizado, há que, antes de tudo,
reconhece-lo como dotado de cultura própria e capaz de história própria. É
imprescindível partir dele, não de noções prévias oriundas de outro contexto
cultural. Mas, se é ponto de partida, não é necessariamente de chegada, porque
o marginalizado precisa participar da cultura dominante, já que aí está sua
arena de luta. Seus adversários na rota emancipatória não são os pares
marginalizados, mas a elite. Assim, cabe respeitar a linguagem própria do
marginalizado, mas precisa impreterivelmente aprender a linguagem culta,
dominante, porque é esta que lhe faculta confrontar-se mais adequadamente. Caso
contrário, recaímos na escola pobre para o pobre (DEMO, 2004, p. 29)
Faculdade, escola e professor operacionalizam o bem mais valioso para a
emancipação! Conhecimento, aprendizagem, aprender a aprender, autonomia e
autoria! Se trilhar no caminho da autoria discente, teremos uma sociedade mais
justa e cidadã. Pedro Demo já vem dizendo há muito tempo, para se emancipar “o
processo estará marcado por pesquisa e elaboração própria (DEMO, 2004, p.69).
Autoria – “é entendida como
habilidade de pesquisar e elaborar conhecimento próprio, no duplo sentido de
estratégia epistemológica de produção de conhecimento e pedagógica de condição
formativa” (DEMO, 2015a, p. 08). A produção do mundo, livros, filmes, músicas,
a vivencia, a convivência e a ideologia são insumos para a reconstrução
autoral. É fácil ver que na profissão professor são poucos os que trilham o
caminho da autoria, coisa pra gente mais chique, mestres e doutores. Claro que
o problema da não autoria é inculcado na formação inicial onde, qualquer colcha
de retalhos como trabalho de conclusão de curso serve! Ser autor mesmo, sempre
fica pra depois, se cair nas graças do mestrado e do doutorado. Nossa
provocação e crítica vêm para que se pensem as futuras e as atuais gerações de
professores e estudantes, onde o professor é peça essencial para a formação de
sujeitos que sejam autores e pesquisadores. Autoria se faz com mentes capazes
de reconstruir conhecimento atual, dinâmico, então é preciso cuidar do professor
primeiro e depois do estudante, (DEMO, 2015a; 2015b; 2018) é capacidade de
leitura e de intervenção na realidade, mudança de paradigma onde aula fica em
segundo plano, o que interessa é a produção própria do estudante, fundamentada
e reelaborada. O ato de ler não pode ser instrucionista “ler não é absorver; é
reinterpretar, ou seja, um ato de autoria ou contra-autoria” (DEMO, 2015a, p.
108) é preciso aprender a leitura reinterpretativa e usa-la no contexto social
atual, leitura cidadã. Para ensaiar autoria
é preciso levar em consideração dois pontos. O primeiro é a autoridade do
argumento. Para os neófitos em autoria (que é meu caso) é preciso, como colocou
Bernardo de Chartres, nanos gigantum humeris incidentes, “descobrir a verdade a
partir das descobertas anteriores” e Issac Newton, “se vi mais longe, foi por
estar sobre ombros de gigantes”
(Pt.wikipedia.org/wiki/Sbre_os_ombros_de_gigantes) duas lições de autorias em
que o conhecimento anterior produzido vira insumo para a autoria, é preciso
reconstruir o que os gigantes fizeram, partindo da leitura (reinterpretar) e
produzir algo atual, novo, diferente, importante será a fundamentação que
fornecerá a autoridade do argumento (qualidade formal), não se é autor do nada,
se é autor a partir de outros autores, da leitura, da interpretação, da
aplicação social da teoria lida (DEMO, 2015a). O segundo ponto, cuida da
qualidade política em saber raciocinar, “é convencer sem vencer” é argumentar
de forma elegante coerente e racional” (DEMO, 2004, p. 20) deixa-se longe o
argumento de autoridade e recepciona a autoridade do argumento, tendo como foco
o questionar hábil, fundamentação pertinente, argumentos e contra-argumentos,
estudo crítico e autocritico, fazer leitura de autores para tornar-se autor é o
sujeito autônomo, não autômato! (DEMO, 2004). É preciso cuidar da qualidade
formal, da habilidade de pesquisa, do conhecimento dos textos e tratamento de
dados e logo da qualidade política crítica e autocrítica de argumentar com
autoridade fundamentada. É preciso cuidar da qualidade política para se chegar
à autoria que vale a pena! É a autoria cidadã, aquela que cuida principalmente
de proteger direitos dos mais vulneráveis (educação), denunciando as agressões
sociais imputadas a uma grande maioria carente de saúde, trabalho digno e
principalmente educação, cidadania é autoria e vice versa. Podemos pensar em
vários tipos de autoria. Musical. Cinema. Teatro etc. Para nós, hoje, a autoria
que nos chama atenção é a autoria discente que passa por um processo para ser
construída e precisa ser balizada, orientada, cuidada, e professor é mediador
para se chegar a ela “estudante não aprende escutando conversa, mas produzindo
conhecimento próprio” (DEMO, 2015a, p. 12) e esse caminho a pós graduação
conhece muito bem quando cuida de seus mestres e doutores, se aprende como
autor com autor para se tornar autor. Nos cursos de mestrado e doutorado
autoria está na flor da pele, pois a pretensão dos cursos é a de formar
pesquisadores produtivos, escritores que discutirão os caminhos da ciência e
sua reelaboração, autoria é reconstrução de conhecimento, não reprodução! É
elaboração própria (DEMO, 2015a). Por fim, a vértebra de conceitos definidos
nos dá a ideia de capacidade educativa de mediação para a autonomia, pesquisa e
autoria. Educando que aprende, o que é ensino, qualidade política, autonomia,
aprender a aprender, emancipação e autoria estará pronto para, através da
educação e da autoria, lutar, afirmar e reafirmar a cidadania a democracia e os
direitos humanos, é o que se espera!
Formalização
da Dialética da autoria
Pretendemos esboçar minimamente uma dialética da autoria, então
recorremos aos seus conceitos mais embrionários, entendidos por nós, e que já
foram tratados na introdução deste texto como vertebra da autoria, que acaba
dando um passo qualitativo ao ser proposta como vértebra da dialética da
autoria, pois, vem caminhando dialeticamente com mútua necessitação e
independência relativa entre seus termos até chegar à autoria, que é em ultima
análise, cidadania política plena. Para argumentar a favor de uma dialética da
autoria podemos trazer o conceito de unidade
de contrários, que “significa o reconhecimento de realidade intrinsecamente
dinâmica, porque atravessada por forças polarizadas de componentes que, ao
mesmo tempo, formam e instabilizam o todo” (DEMO, 2008, p. 108), estamos no
campo da inclusão não da exclusão estanque, trata-se do amalgamar! Mesmo que
polarizado, por isso contrário, não contraditório. É como a dinâmica da física
onde os opostos se atraem (elétrons, prótons e nêutrons) formando uma outra
quantidade e qualidade, onde o todo (átomo) é sempre precário podendo ser
reconfigurado a qualquer momento. Para nós que temos o ensino como base para a
educação, que é instrumentalizado através de aulas, que é antes de tudo má
prática (DEMO, 2018), podemos ver avanços quando a aula se desdobra em
qualidade formal, e o estudante passa a utilizar o ensino metodologicamente,
sabendo, mesmo que de forma precária, formalizar o que lhe foi ensinado.
Podemos ver um passo à frente, do mero ensino instrucionista, sem qualidade
formal. Não estamos dizendo com isso, que o processo para se chegar à dialética
da autoria é linear, pelo contrário, o processo é autoral e provocado, por isso
dinâmico e dialético sempre! Só estamos fazendo uma organização metodológica,
ou como se diz em ciência, formalizando possibilidades.
Aprendemos que “é próprio da dialética não reduzir um termo ao outro,
mas manter entre eles relacionamento polarizado tipicamente não linear” (DEMO,
2008, p. 112), o que iluminamos é que se pode sempre da um passo a frente,
dialeticamente falando, através da formalização proposta, dialética da autoria.
Para qualidade formal se desdobrar em maiêutica questionado é só questão de
orientação, como nos ensina Sócrates, não é percorrer o caminho pelo estudante
e sim lhe mostra um caminho possível a ser percorrido. A dúvida é parte
fundante da construção do conhecimento e da autoria, por isso lemos autores
para nos tornarmos autores (DEMO, 2015a), pois através da autoria a
aprendizagem surge, brota, inquieta o indivíduo. Uma das marcas mais
interessantes da dialética esta em sua capacidade de conscientização de que o
sujeito é político, principalmente quando essa conscientização desperto a
qualidade política participativa, da própria vida e da construção social de
qualidade, principalmente para os mais vulneráveis, que acaba sendo nossa
hipótese básica de trabalho, onde educação, principalmente stricto sensu
caminha para a dialética da autoria.
Autonomia pode ser observada pela dinâmica
dialética da natureza, principalmente pela sua auto-organização (DEMO, 2008),
na sociedade e principalmente em educação autonomia se mostra na capacidade de
“conquista de espaço próprio” (DEMO, 2008, p. 113) é o saber fazer para melhor
intervir em sociedade, é produzir dialeticamente para provocar capacidade
política de participação, principalmente autoral.
Aprender a aprender é construção dialética fundamental no processo de
autoria, aponta para a capacidade construtiva e reconstrutiva de conhecimento,
é saber pensar e articular conhecimento disponível para a construção e
reconstrução autoral, evolui a partir da autonomia educacional, é dialética
onde o amalgamar das categorias anteriores se desdobram em aprender a aprende,
tornando o indivíduo, pelo menos em educação, emancipado em certa medida para o
exercício da autoria dialética e cidadã. Dialética porque ninguém é autor
sozinho, inédito:
Retomando a morte do autor de Barthes (1977), referia-se à discussão
hermenêutica de fundo em torno da produção textual que não admite autoria
plenamente original, porque nenhum autor é plenamente original. Como costumava
dizer, é a cultura que fala, mais que o autor como parte da cultura. Quando
engendramos um texto, inevitavelmente partimos de outros textos, da linguagem
que dominamos e recebemos da tradição, de sorte que não há palavra primeira,
nem ultima. Não se trata de voz solitária, mas de uma polifonia de vozes
rearticuladas em cada nova obra. O termo morte do autor é forte e talvez
excessivo, porque Barthes queria apenas desconstruir pretensões exacerbadas de
autoria e a celebração subserviente de autores. O autor totalmente original
morreu, pois nunca existiu. Na natureza conhecida, coisas novas são feitas de
coisa anteriores, já que do nada não vem nada (ex nihilo, nihil fit), como é
nosso caso: cada novo ser humano tem sua chance individual irrepetível, mas é
ser de outro ser. Assim, a natureza não cria no sentido forte do termo, mas
renova, sendo isso que ocorre com um livro novo. Alguns são muito inovadores,
outros são menos, e outros parecem ou são cópias. Todos conhecemos as agruras
do mestrado/doutorado que precisa fazer algo original, aproveitando autores
anteriores – não pode plagiar, mas também não se lhe dá liberdade para criar o
que quer, já que, para ser aprovado, precisa do beneplácito institucional e
respectiva obediência. (DEMO, 2015a, pp. 14 – 25)
O que nos é importante escavar no fragmento do texto acima, são as
indicações de uma dialética autoral, que percebemos em várias partes do
fragmento: -“quando engendramos um texto, inevitavelmente partimos de outro
texto”, “não se trata de voz solitária e sim de uma polifonia de vozes
rearticuladas em cada nova obra”, “na natureza conhecida, coisas novas são
feitas de anteriores, já que do nada não vem nada”. Podemos extrair uma
dialética que vem do plano do conhecimento, pois “a dialética combina com a
hermenêutica, ao aceitar que a lógica é pensamento circular, introduzindo em
toda argumentação a impossibilidade de ser concluída” (DEMO, 2008, p. 113),
nesse passo, conhecimento, autoria, no sentido forte do termo, não pode ser
concluída, pois a sociedade não está, e nunca estará! É processo dialético
social, no sentido de sucessivas gerações, e autoral no sentido circular de ler
autor para se tornar autor.
Considerações
Finais
Autoria é processo dialético de ler autores para se tronar autor,
sugerindo isto propomos uma dialética do conhecimento, que é a autoria, é a
reconstrução do conhecimento, pois só podemos avançar o conhecimento tendo por
insumo o que já está formulado, conhecimento anterior, em dinâmica dialética de
desconstrução e reconstrução de conhecimento. Na relação de contrários podemos
ver que o contrário do conhecimento é conhecimento novo, (alguns podem dizer
que contrario do conhecimento e falta de conhecimento, mas não seria contrario
e sim oposto onde não há dialética) reconstruído a partir do insumo anterior, é
ler autores para se tornar autor (DEMO, 2015a).
Esta compreensão da metodologia resgata, ao mesmo tempo, o papel
insubstituível da universidade e da escola, como lugares privilegiados da
construção do conhecimento e da formação da competência inovadora. Significa,
entretanto, também crítica radical aos vezos atuais, perdidos na mera
transmissão, nas aulas copiadas para ensinar a copiar, na transmissão decorada
dos cursinhos de vestibular, nos treinamentos domesticadores que reduzem a
todos a meros objetos de aprendizagem. A vida acadêmica autentica é um processo
permanente de construção científica, com vistas a formas mais competentes de
intervenção na realidade, unindo teoria e prática. (DEMO, 2004, p. 10).
É o olhar mais longe por estar em ombros de gigantes, em uma relação
dialética autoral, partindo do ensino, que é o que temos em nosso sistema de
Educação; atingindo qualidade formal, que se relaciona com instrumentos e
métodos, que pode despertar a maiêutica questionadora e reflexiva,
reconstrutiva de cada indivíduo, brotando o aprendizado para amadurecer o
aprender a aprender, que logo se desdobra em autonomia, uma vez emancipado
educacionalmente se espera que o sujeito tenha capacidade dialética autoral,
contribuindo de forma decisiva para o exercício da cidadania individual e
coletiva. Individual por que se emancipou e tem capacidade dialética autoral, é
autor da própria vida, e coletiva por que seus escritos vão ajudar no processo
autoral de tantos outros, principalmente se perscrutar a tendência dialética
com consciência de que seus escritos podem ser para os outros: Inspiração
autoral para o exercício da cidadania participativa! Não colocamos uma condição
linear para se chegar à autoria, até mesmo porque não seria dialético, é só
organização metodológica e maneira de formalizar uma sugestão da dialética
autoral, entre tantas outras possíveis.
Todavia:
O importante é perceber que a dialética possui condições de
compreender a sensibilidade histórica humana, ou seja, o fator humano na
história, precisamente em sua sutileza, precariedade e pretensão. Sabe explorar
caminhos incertos, porque não joga na certeza total. O erro é parte integrante
das ciências sociais. Vive na crítica e funda-se na autocrítica. É contra o
dogmatismo das certezas e das evidencias; capta a presença do social em
ciências, que não se reduz à teoria do conhecimento, mas é também sociologia do
conhecimento. E acredita que a realidade é sempre maior que nossas teorias.
(DEMO, 1985, p. 80).
É como colocou Marx quando disse que a ciência procura compreender o
mundo, sendo que o movimento não é de compreensão do mundo e sim de
modificação. Pensar a dialética do conhecimento na capacidade autoral é
movimento de modificação constante, individual e coletivo, uma sociedade que
produz conhecimento é crítica e autocrítica, dialética, e possivelmente estará
pronta para entrar na disputa mundial pelo desenvolvimento, pois no mundo
“aumenta o consenso em torno da convicção de que o manejo e a produção de
conhecimento constituem a mais decisiva oportunidade de desenvolvimento” (DEMO,
2004, p. 03) desde que autoral.
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