Tayná Kalindi Limpias Vieira da Rocha Leite
Gerente de Projeto
na ONU Mulheres Brasil, Mestra em Sociologia da Universidade Federal do Paraná.
Contato: tayna@selfdh.com
Marlene Tamanini
Professora no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFPR, titular do Departamento de Sociologia da Universidade Federal do Paraná e coordenadora do Núcleo de Estudos de Gênero da mesma universidade. Contato: tamaniniufpr@gmail.com.
Resumo:
É a
partir da perspectiva da literatura feminista sobre maternidade e cuidado que
este trabalho apresenta análises do conteúdo de nove entrevistas que relatam a
experiência de mães adeptas da criação com apego. Nos propomos a compreender de
que forma estas práticas e vivências relatadas se organizam reflexivamente e
como se fundamenta, neste contexto, a narrativa do maternar destas mulheres.
Além de olharmos para as concepções e experiências vividas e narradas pelas
entrevistadas, nos debruçamos sobre a significação que sustenta tal experiência
de cuidar, e como se dá a sua vinculação com a comum essencialização da
maternidade nos mais variados campos, incluindo a Medicina e a Psicologia, mas
também o senso comum. O estudo se desenvolve a partir dos debates feministas
sobre maternidade e se foca sobretudo na epistemologia feminista à luz de uma
perspectiva butleriana que nos brinda com os conceitos de interpelação e
reconhecimento, fundamentos a partir dos quais interpretamos os conteúdos das
experiências e o lugar reflexivo da agência destas mulheres que constroem a
criação com apego. Consideramos ser essencial expandir as reflexões do campo,
analisando como esses discursos do cuidado apegado operam sobre as práticas
femininas e maternais, como os relatos que estas mulheres fazem sobre si,
operam conjuntamente na realidade material do cuidar, em
uma perspectiva que vislumbre o direito ao bom cuidado, sem que isto implique
na sobrecarga, manutenção ou aprofundamento das desigualdades sustentadas na
feminização do cuidado significa questionar os fundamentos deste modelo de
criação. Concluímos que atribuir à mãe a responsabilização
por toda a conformação física e psíquica de uma criança assenta e requenta bases de uma perspectiva familista, heteronormativa,
essencializadora, que pode ser considerada despolitizada e antifeminista mesmo
que se apresente, algumas vezes, como o oposto disso.
Palavras-chave: Maternidade; criação com apego; cuidado; feminismo.