DOI: 10.5281/zenodo.6969881

 

Caleb Benjamim Mendes Barbosa

Roteirista, Mestrando em Teoria Literária pelo Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal de Pernambuco (PPGL-UFPE) e Bacharel em Cinema e Audiovisual pela mesma instituição. É pesquisador Bolsista CNPq do Núcleo de Estudos em Literatura, Memória e Imaginário (NULMI), vinculado ao Núcleo de Pesquisa DERIVA; e do Grupo de Estudos em Literatura, Subjetividade e Forma, vinculado ao Núcleo de Pesquisa em Literatura Brasileira.  E-mail: caleb.benjamim@ufpe.br

 

Resumo: A pesquisa se propõe a investigar o barroquismo na obra “O Bandido da Luz Vermelha” (1968) de Rogério Sganzerla, e suas afinidades eletivas com o pensamento antropofágico de Oswald de Andrade (1928). Sganzerla e Oswald, cineasta e escritor que em momentos distintas, mas obsedados pelas mesmas questões, apontaram caminhos semelhantes para os problemas culturais do vínculo colonial com as antigas e novas metrópoles, e a formação identitária de povos descolonizados. A partir das ideias de Paulo Emílio Salles Gomes, em “Uma Situação Colonial?” (1960), e da noção de poética da emulação, de João Cezar de Castro Rocha (2017), percebemos, ainda, como o filme de Sganzerla propõem no campo estético não apenas uma crítica ao modo com que se constituíam as cinematografias nacionais, mas antes uma reflexão acerca de dispositivos narrativos suficientes e capazes de dialogar com a tradição colonialmente herdade, e não obstante, configurar um impulso singularizador, que mimetizem realidades assimétricas e contextos não-hegemônicos. Assim, valendo-se das categorias operativas do neobarroco, descrita por Severo Sarduy (1979), das características da Forma Shandyana elencadas por Sergio Paulo Rouanet (2007) e do famoso estudo de Ismail Xavier (1ed. 1993), procuramos demonstrar como na narrativa fílmica de Sganzerla dá-se, em última análise, uma prática poética daquilo que Lezama Lima (1988) chamará de arte da contraconquista. Ou seja, a afinidade eletiva entre o poeta cubano e o pensamento antropofágico oswaldiano da poesia de exportação, segundo o qual a literatura dos trópicos, produzida à margem, marginalizaria a literatura canônica e canonizada, ao influenciar esse outro por quem fomos, involuntariamente, influenciados. Logo, ao transformar a alteridade em forma narrativa o filme de Sganzerla também altera seu doador, não apenas o receptor seria transformado, mas a fonte concessora tem seu estatuto problematizado, sua autoridade e força desnaturalizados, e sobretudo, sua tradição apoucada, ressemantizada e reinventada à luz da obra que engatilha essa transculturação. Lançado em um contexto de modernização da linguagem cinematográfica e no cerne do debate sobre a emancipação da situação colonial do cinema brasileiro, “O Bandido da Luz Vermelha” redimensiona, desta maneira, a problemática da constituição identitária dos cinemas latino-americanos – ao propor o Barroco Antropofágico enquanto alternativa viável, que coloca em outro diapasão a velha relação de dependência cultural dos povos descolonizados –; além do próprio conceito de Barroco – enquanto forma sincrônica e intersemiótica atualizada às demandas e contingências de contemporaneidades e contextos distintos.

Palavras-chaves: Identidade. Cultura. Pós-colonialidade. Antropofagia. Barroco.